Coisas sobre a Mamãe

Uma das cenas mais tristes de minha infância/adolescência foi algo ocorrido com minha mãe.

Dona Carmem nasceu nordestina e católica, e após alguns anos em São Paulo, conheceu a umbanda, que a auxiliou na cura de dois de seus filhos mais velhos. Um deles era eu.

Ela, por gratidão ou por interesse, aprofundou-se na sua “fé”, tornando-se Babalorixá, chamada mãe de santo, e de madrinha por mais de cinquenta “filhos” que já ajudou a formar nestes anos.

Foi um pouco antes de se decidir em sua formação religiosa que isso aconteceu.

Um grupo de agradáveis jovens veio a ela, dizendo que faziam parte de um grupo de estudo sobre religiões afro-brasileiras, e a convidou para dar uma palestra sobre a Umbanda para eles.

Ela estava emocionada. Colocou seu melhor vestidinho, que havia trazido do Ceará a anos, e sentou-se ansiosa, aguardando as duas moças que se comprometeram a busca-la de carro.

Ainda lembro, algumas horas depois, ele retornando e, atravessando a sala, se trancar em seu quarto, chorando aos urros, de uma forma que só havia ouvido duas vezes durante toda a vida.

Quando parou de chorar, e pode contar o que aconteceu, vi ódio em seus olhos.

As simpáticas jovens mentiram.
Na verdade, a tal palestra era um culto de exorcismo, ministrado numa igreja “Universal”(?!!) no Bairro do Glicério, e ela, assim como outros dois “pais de santo”, foram levados ali, diante de uma multidão que gritavam: ”Queima, queima...”, “Sai, satan...”, para uma demostração de poder de seus pastores.

Eles queriam ver manifestações contorcidas em uma mulher simples, que zelava por sua religião. Não viram. Viram lágrimas e repúdio.

Durante anos, persegui crentes, já que fui umbandista – entre outras “cossitas”, e não conhecia – e não queria conhecer - Jesus, que jamais faria tal absurdo. Para mim, eram todos iguais: eram cristãos, “mini-cristos”...

Dona Carmem, mesmo após quinze anos de minha conversão, continua com seu “centro” lotado, e fala de mim, como uma referência de crente que presta (mãe é assim, acredita em cada coisa...rs).
Zé Luís

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